Eduardo Arrais Rocha, Francisca Tatiana Moreira Pereira, Ana Rosa Pinto, Quidute, José Sebastião Abreu, José Wellington Oliveira Lima, Carlos Roberto, M. Rodrigues Sobrinho, Maurício Ibrahim Scanavacca.
International Journal of Cardiovascular Sciences (Int J Cardiovasc Sci.), in press.
Fundamento: Pacientes submetidos à ressincronização cardíaca podem evoluir com padrões de resposta acima do esperado, com normalização dos parâmetros clínicos e ecocardiográficos.
Objetivo: Analisar as características clinicas e ecocardiográficas dessa população de super-respondedores, comparando-as com os demais pacientes submetidos à terapia de ressincronizacao cardíaca (TRC).
Métodos: Estudo de coorte observacional, prospectivo, envolvendo 146 pacientes, consecutivamente submetidos a implantes de ressincronizador cardíaco. Para comparação das variáveis foram realizados o teste exato de Fisher e o teste de Mann-Whitney. Foram considerados super-respondedores (SRR) os pacientes com fração de ejeção (FE) > 50 % e classe funcional (CF) I/ II (NYHA) após 6 meses da TRC. Resultados: A idade média foi de 64,8±11,1 anos, sendo 69,8% do sexo masculino, com mediana da FE de 29%, sendo 71,5% com bloqueio de ramo esquerdo (BRE), 12% com BRD associado a bloqueios divisionais (BD), 16,3% com marcapasso cardíaco definitivo, 29,3% com miocardiopatia isquêmica, 59,4% miocardiopatia dilatada e 11,2% miocardiopatia chagásica. Foram observados 24 (16,4%) de super-respondedores, sendo que 13 (8,9%) apresentaram normalização da FE, dos diâmetros diastólicos do ventrículo esquerdo (DDVE) e da CF. Quando comparados com os demais pacientes (NSRR) em relação as características pré-implante, os SRR apresentavam-se mais no sexo feminino (58,3% x 22,8%; p =0,002), maior índice de massa corpórea (26,8 x 25,5; p = 0,013), maior FE basal (31,0 x 26,9; p = 0,0003) e menores DDVE (65,9mm x 72,6mm; p =0,0032). Dez pacientes (41,6% dos SRR) com BRD e BD evoluíram como SRR, entretanto apenas um paciente com doença de Chagas e apenas na 1ª avaliação. Conclusão: Os super-respondedores apresentaram cardiopatia de base menos avançada e sem diferenças em relação ao tipo de distúrbio de condução basal. Pacientes com BRD e BD, mas sem cardiopatia chagásica podem também evoluir como SRR..
COMENTÁRIOS
Eduardo Arrais Rocha
A Terapia de Ressincronização Cardíaca (TRC) apresenta padrão de
resposta favorável em 70% dos pacientes. Entretanto, o que significa ser
respondedor à TRC? Melhorar clinicamente ou ao Ecocardiograma? Melhorar
a qualidade de vida ou aumentar a sobrevida? Assim uma grande discussão
permanece na Literatura sobre o assunto.
Classicamente nos artigos científicos, define-se como respondedor à
TRC, pacientes com redução de > 10 % no volume sistólico final do ventrículo
esquerdo (VSFVE), por ter sido este o melhor marcador associado com
prognóstico favorável. 2
E o que são os Hiper ou Superrespondedores? Alguns autores
descreveram grupos de pacientes que evoluíram com respostas acima do
esperado, com normalização da função ventricular esquerda, da classe
funcional e dos diâmetros ventriculares, sendo denominados de hiper-
repondedores ou super-respondedores (SRR), variando entre 9-21% nos
diversos trabalhos. 3,4 As características desses pacientes tem sido motivo de
estudos, sendo a super-resposta interpretada como uma possível
miocardiopatia induzida ou agravada pelo dissincronismo cardíaco, provocada
pelo distúrbio de condução intra-ventricular. Haveria então, uma nova etiologia
para as miocardiopatias, a Dissincronomiopatia.
Preditores de super-resposta são: sexo feminino, cardiopatia não
isquêmica (cardiopatia chagásica não incluída) e bloqueio de ramo esquerdo.
Em 2008, publicamos o trabalho 5 : Assincronia como causa primária
de miocardiopatia, com uma série de casos com descrições semelhantes de
hiper-respondedores, tendo um caso apresentado por duas vezes o mesmo
comportamento. Após fratura de eletrodo, a disfunção severa retornou, sendo
normalizada novamente após implante de um novo eletrodo em VE, desta vez
por toracotomia.
Em 2017, publicamos uma série maior de pacientes com superresposta
e realizamos comparações com os grupos não superrespondedores. 1 A
Literatura mostra, de forma diferente do que apresentamos, que a presença de
BRE também tem importante fator preditor e que com maior largura e com
morfologia mais típica de BRE clássico, estaria associada a melhores
respostas e hiperrespostas. Talvez a menor casuística do nosso estudo e maior
largura dos BRD incluídos, associados a bloqueios divisionais, justifiquem a
diferença.
Referências
1. Quem são os Super-Respondedores à Terapia de Ressincronização
Cardíaca? Eduardo Arrais Rocha, Francisca Tatiana Moreira Pereira, Ana Rosa
Pinto Quidute, José Sebastião Abreu, José Wellington Oliveira Lima, Carlos
Roberto M. Rodrigues Sobrinho, Maurício Ibrahim Scanavacca. International
Journal of Cardiovascular Sciences (Int J Cardiovasc Sci.), in press.
2.Yu CM, Bleeker GB, Fung JW, Schalij MJ, Zhang Q, van der Wall EE, Chan
YS, Kong SL, Bax JJ: Left ventricular reverse remodeling but not clinical
improvement predicts long-term survival after cardiac resynchronization
therapy. Circulation 2005; 112:1580-1586.
3. Blanc JJ, Fatemi M, Bertault V, Baraket F, Etienne Y: Evaluation of left
bundle branch block as a reversible cause of non-ischaemic dilated
cardiomyopathy with severe heart failure. A new concept of left ventricular
dyssynchrony-induced cardiomyopathy. Europace 2005; 7:604-610.
4. Castellant P, Fatemi M, Bertault-Valls V, Etienne Y, Blanc J-J: Cardiac
resynchronization therapy:" nonresponders" and" hyperresponders". Heart
Rhythm 2008; 5:193-197.
5. Rocha, Eduardo Arrais, e cols. "Assincronia como causa primária de
miocardiopatia: uma relação de causa e efeito." Revista Latino-Americana de
Marcapasso e Arritmia- RELAMPA 21.3 (2008): 178-188.